História de uma vida


Um córrego chamado Itapejica.

Era uma criança de dois anos, que viera morar no Bairro de Ermelino Matarazzo, na nascente do córrego Itapejica, de águas límpidas com variedades de peixes.
Ermelino Matarazzo um Bairro na região leste da cidade de São Paulo, fundado por volta de 1588, fazia parte do Bairro de São Miguel Paulista, onde havia a casa da moenda, um engenho, uma pousada de taipa, (Dom Pedro 1º, parava para descansar, e seguir viagem com destino ao Rio de Janeiro), com a instalação da fábrica Celosul (fábrica de papel do grupo Matarazzo), a margem da ferrovia, surgiu à vila de casas dos operários, cinema, hotel, primeira escola (Condensa Filomena Matarazzo construção em madeira), pedreira, chácara da família Matarazzo, um casarão com fama de ser assombrado e no Jardim Berlim uma fonte de água potável.
Córrego Itapejica, que tem seu leito paralelo a Avenida Paranaguá e vai desaguar no Rio Tietê.
A criança costumava brincar as margens do córrego, onde havia bambus, pássaros, borboletas e árvores...
A criança não tinha preocupações com o preço do feijão, se havia empregos e quantas vidas a Ditadura estava destruindo.
A criança, bola, carrinho, perna de pau, bolinha de gude, bandido e mocinho, zorro e nacional kid.
Chega o pré-primário, a mãe guarda o primeiro cartão do dia das mães.
Primeiro ano, professora Eunice Laureano da Silva.
A criança está crescendo, quinta série, criou gosto pela arte incentivado por uma professora de artes (Sandra).
1977, uma música lhe chama atenção “Pra não dizer que não falei das flores (caminhando)” de Geraldo Vandré.
-Casa da moenda foi ocupada e o engenho sumiu.
-A pousada caiu, só restou “A Ruína de Taipa, tombado pelo Patrimônio Histórico” porém está abandonado à sorte.
-A vila de casas quase sumiu.
-O cinema foi derrubado, assim como o hotel.
-A escola mudou-se de endereço, e hoje é de alvenaria.
-A pedreira deu lugar a um Banco.
-A chácara ficou reduzida a uma casa.
-O casarão transformou-se em uma área degradada, talvez ainda exista assombração.
-Da fonte nem água potável.
-O Jardim Berlim virou Jardim Belém.
-A ditadura acabou.
-Acabou também o bambu, os peixes as borboletas.
-A Professora Eunice Laureano da Silva, morreu em um acidente de carro, deram o nome à escola.
-A professora de artes, só restou lembranças.
-Geraldo Vandré, não canta mais.
-A criança ficou adulta, as brincadeiras acabaram, hoje se preocupa com a desigualdade social e com o preço do feijão.
-O Córrego Itapejica não existe mais, virou um esgoto chamado Córrego Mongaguá.
-A criança e o córrego Itapejica, está nas lembranças do artista plástico.
-Eu Ricardo Cardoso.

(autor Ricardo Cardoso)

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